terça-feira, 6 de março de 2007

Sobre Trotes Universitários

Essa semana começaram as aulas de uma das maiores e mais importantes instituições de ensino do país, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Além da volta às aulas, recomeçam as manifestações de confraternização e inclusão dos ditos “bixos” no meio acadêmico, os chamados trotes universitários. Neste período de confraternização as crianças e pessoas de condição econômica menos favorável (pedintes, mendigos, órfãos...) dividem os semáforos de Porto Alegre com os novos universitários, pessoas que tem acesso à internet, celular, transporte, informação, cultura lazer, estudo e comida. Não estou eu a querer defender um ou outro, apenas destacar alguns pontos que me parecem pertinentes.

Há cerca de um ano atrás uma pessoa que já havia participado deste tipo de trote (pedir dinheiro nos semáforos) me relatou que em um dia se pode conseguir cerca de R$ 35,00. Ora, então em cinco dias serão R$ 175,00, certo? Digamos que em um curso qualquer tenham entrado 40 novos alunos, seriam então em uma semana R$ 7.000,00. Claro que nem todos conseguem arrecadar R$ 35,00 por dia e nem todos os 55 cursos da UFRGS participam deste modelo de trote. Então sugiro o seguinte cálculo:

- 15 cursos (notem que estou usando apenas 27% dos cursos da universidade)

- 30 alunos por curso

- média diária por pessoa: R$ 15,00

- dias da semana: 5

- total arrecadado por curso em uma semana (média diária por pessoa*dias da semana*alunos por curso): R$ 2.250,00

- TOTAL ARRECADADO POR TODOS OS CURSOS: R$ 33.750,00

Vejam bem, mesmo com todos os dados minimizados o total arrecado seria suficiente para comprar mais de 22 mil litros de leite (a R$1,49/l). Ou melhor, imaginem uma injeção de 33 mil reais na conta bancária de uma instituição de caridade anualmente? Com certeza não acabaria com o abismo social que presenciamos diariamente, mas certamente amenizaria a situação indigna de uma parte da população. Mas infelizmente não é esse o fim desta quantia. Ela será usada para financiamentos de festas (opa, aí vem mais lucro para os alunos!!!), melhorias de diretórios acadêmicos e outros que não tem muita relação com o ensino propriamente dito. Vale a pena contribuir?

Sabemos todos que uma grande parte das pessoas que entram na UFRGS (eu diria mais de 50%) se situam economicamente nas classes média e alta da sociedade. São filhos de empresários, médicos, advogados, proprietários de terra, comerciantes, entre outros. Passaram no vestibular e tem a sua vaga garantida, e isso eu não discuto. Agora, teremos nós que patrocinar as suas festas???

Mesmo assim não quero eu induzir o leitor a rejeitar este tipo de ação e nem a dar esmola nos semáforos. Para mim, dar condições de sobrevivência as pessoas, nem que sejam mínimas, é dever e comprometimento do Estado, porém devemos ter consciência da incapacidade deste de gerir políticas sociais e respeito às entidades que se dispõem a fazer o que o Estado não consegue. O trote, suas brincadeiras e a inserção dos novos alunos na universidade são ações válidas, mas será que a capacidade de acúmulo monetário não poderia ter outro fim?

Fica a aqui o meu protesto e a minha opinião de que enquanto a sociedade não mudar certos valores e costumes, não conseguirá dar início a um projeto constante rumo à igualdade social.

Um abraço a todos,

Spencer Bossardi.

3 comentários:

Laura Ziti disse...

Pessoalmente, acredito que o trote é imagem daquela situação de uma classe que por muito tempo foi injustiçada e muito reclamou do fato e, quando finalmente atinge o poder, repete o que seus antigos opressores faziam. E o pior, essa classe é composta, na maior parte das vezes, de um bando de piás de merda, que estão, no máximo, há um ano na instituição de ensino superior. Por isso, não fugi e aceitei humildemente meu trote, levei tinta na cabeça, bálsamo alemão, comi banana com ketchup, não pedi esmola (não precisava), levei uma vassoura durante uma semana para o campus. Mas no ano seguinte, quando meus colegas planejavam a vingança mal direcionada, eu simplesmente FUGI e me neguei a fazer parte dessa barbárie... enfim, cada um cada um... e eu sou chata!

luciano disse...

Pois é, spencio, assim que é...
como já disse jesus, quem mais tiver, mais vai receber. Abraço

Anônimo disse...

Eu nunca tinha pensando numa coisa dessas. 33 mil para uma instituição de caridade... isso seria muito bacana, uma lição de vida. Esta faltando que as pessoas se preucupem mais umas com as outras. Gostei muito do seu texto =]